As comunidades quilombolas no estado de Santa Catarina



Com o processo de escravidão, o curso da história desses grupos em seu continente foi interrompido, comprometendo violentamente os seus costumes com relação à alimentação, ao modo de se vestir, à vida familiar e em grupo e à religião.

No Brasil, os escravos eram obrigados a comer o que lhes era dado e a vestir o que lhes era imposto, como panos grossos de algodão. Apesar de tudo isso, esse povo ainda conseguiu resistir e manter muitas das suas tradições.

Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão que sofriam. Contudo, os senhores de engenho proibiam a prática de qualquer tipo de luta. Então, os escravos utilizavam o ritmo e os movimentos de suas danças africanas adaptando-os a um tipo de luta, a capoeira.

O nome dessa luta pode ter surgido em razão do local onde muitas vezes as lutas eram praticadas, em campos com pequenos arbustos chamados na época de capoeira ou capoeirão. A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas e tinha como funções principais a manutenção da cultura, bem como da saúde física.

A prática da capoeira ficou proibida no Brasil até 1930, quando foi declarada esporte nacional brasileiro pelo então presidente da república Getúlio Vargas.

Os escravos africanos e seus descendentes resistiram constantemente à escravidão e lutaram de várias formas contra a violência que lhes era imposta, fazendo o trabalho mais devagar, quebrando ferramentas, incendiando plantações, agredindo seus senhores e feitores ou fugindo. Entre todas as formas de resistência, a fuga, realizada individualmente ou em grupos, era a mais comum, possibilitando ao escravo buscar a sua liberdade.

Mesmo sendo caçados, recapturados e castigados, milhares de escravos conseguiam escapar da escravidão e fundar mocambos (esconderijos) e quilombos (povoações).

As regiões onde ainda residem os descendentes de escravos são denominadas comunidades quilombolas. No Brasil, já foram identificadas muitas comunidades que têm origem histórica nos quilombos. No estado de Santa Catarina há comunidades nos municípios de Vitor Meireles, Porto Belo, Rio Negrinho, Campos Novos e Praia Grande.

Para serem reconhecidas, não é preciso que as comunidades tenham sido formadas apenas por escravos fugidos, mas sim ter algumas características, como uma população negra vivendo em área rural e cultivando para sua sobrevivência, além de costumes e tradições referentes às comunidades que ocupavam o quilombo de origem.

Ainda hoje, muitos descendentes dos escravos lutam na justiça para ter a propriedade coletiva das terras em que vivem. A Constituição de 1988 reconheceu aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando essas terras o direito à propriedade definitiva, devendo o Estado emitir o título respectivo de posse.

Em Santa Catarina, muitos escravos se refugiaram no Sertão do Valongo após a abolição da escravidão em 1888. O local é uma comunidade rural adventista e sua população é de aproximadamente 34 famílias, que até hoje permanece como um dos mais preservados resquícios dos quilombos nessa região.

Na atualidade existe um projeto denominado “Comunidades negras de Santa Catarina”, que tem como objetivo preservar a memória do povo afrodescendente no sul do país.

A Invernada dos Negros, no município de Campos Novos, foi a primeira comunidade catarinense a receber, em 2004, a certificação de autorreconhecimento como remanescente de quilombo. A comunidade reúne atualmente 127 famílias, totalizando mais de quatro mil pessoas.

Já a Comunidade Quilombola São Roque ou Pedra Branca, localizada no município de Praia Grande, foi reconhecida igualmente pela Fundação Cultural Palmares, uma fundação vinculada ao Ministério da Cultura. A ocupação da área, iniciada em 1824, mantém-se até a atualidade com 27 famílias cadastradas.

Na atualidade, as chamadas políticas afirmativas são umas das formas que a sociedade brasileira encontrou para resgatar uma dívida com os descendentes dos africanos que foram trazidos para o Brasil como escravos. Afinal, foram inúmeras as violências cometidas aqui contra seus ancestrais desde o início da colonização, além da retirada forçada de seu local de origem, sendo transportados em péssimas condições a outro continente para serem vendidos como mercadorias.

Nesse processo, não houve respeito aos laços familiares, aos costumes, à história, à língua e ao sentimento de pertencer a um grupo que une os indivíduos.

Em 2003, o dia 20 de novembro foi proclamado como o Dia Nacional da Consciência Negra. A adoção de um dia para se pensar e celebrar a consciência negra é um marco na luta pela igualdade racial brasileira. Essa data foi escolhida porque Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão, foi assassinado em 20 de novembro de 1695. Em 1995, trezentos anos depois de sua morte, Zumbi foi reconhecido como herói nacional.

Essa data tornou-se muito mais do que uma data comemorativa. Deve ser um dia de memória e reflexão sobre a atual situação da população afrodescendente brasileira.


Gravura de Cruz e Sousa


Gravura de Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 — Curral Novo, 19 de março de 1898) foi um poeta Catarinense, Filho dos escravos alforriados.

Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.




Grupo de pessoas dançando capoeira.


Grupo de pessoas dançando capoeira.

Grupo de pessoas dançando capoeira.





Glossário


Políticas afirmativas: medidas adotadas pelo Estado que visam eliminar desigualdades e compensar perdas provocadas por motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.